quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Diploma de credibilidade

* Laércio Pimentel

Ceticismo. Desconfiança. Descrença. Você acreditaria na veracidade de uma notícia sobre apuração de irregularidade no financiamento de campanhas políticas feita por empreiteiras, tendo como apurador jornalístico um engenheiro? E o que dizer das denúncias contra a corrupção tendo na apuração dos fatos um político? Pode ser que em ambos os casos a averiguação seja das mais corretas, porém sempre vai pairar a dúvida do lobby ou do "protecionismo de classe".
São fatos que não esclarecem posição da questão ética, mas expõem o campo da dúvida quando o jornalismo é partilhado por diversas categorias, quase sempre à mercê de interesses pessoais, políticos e empresariais. Estrangular o jornalismo extraindo seus devotos praticantes, justapostos diplomados, é uma forma que beira à arbitrariedade contra a democracia, porque profissionais que escolhem o jornalismo como segunda opção têm em mente a notícia também como uma segunda opção. Verdade é verdade, nada mais do que a verdade – parafraseando o personagem Odorico Paraguaçu, tão bem interpretado por Paulo Gracindo. Não é possível ter na cadeia de comunicação pessoas que possam acender velas para Deus e para o Diabo. O princípio da ética e verdadeira prática do jornalismo ainda é o do livre trato da notícia como notícia e não como produto mercantilista de interesses de categorias, mesmo que ainda sofra com as vicissitudes editoriais próprias de cada meio empresarial.
Abrir precedente para que a desconfiança venha pairar sobre os fundamentos democráticos do jornalismo é um ditame inconveniente e despropositivo que só serve àqueles que vislumbram tirar proveito de questões pré-concebidas e estratagemas bem aparelhados como o que parece em questão. O jornalismo não é um prato culinário como já foi sugerido; e para aqueles que defendem o diploma apenas para questões cruciais que envolvam risco à vida humana, então é bom refletir sobre o poder da comunicação na vida de uma sociedade, não podemos nos eximir de tal reflexão, nem de ignorar tal responsabilidade.
O diploma é sim essencial para a carreira de jornalismo. É sim essencial para a manutenção da democracia. É sim essencial para extirpar oportunistas do uso da máquina de comunicação como forma de vencer suas próprias limitações na carreira que havia escolhido e na qual não lhe foi recompensatória.
Sabemos que mesmo num ambiente cercado por diplomados dentro da cátedra em questão, o painel jornalístico ainda não é tão eficiente e qualitativo quanto deveria, no entanto, eliminar a exigência do diploma não é fator de melhoria e sim de retrocesso. Precisamos de faculdades mais atuantes nas questões de avaliar as reais necessidades do mercado contemporâneo, das necessidades da sociedade, e só assim poderemos chegar à definição de programas mais assertivos e de conteúdo qualitativo mais condizente com a realidade.
É preciso fortalecer a idéia de restituição da exigência do diploma no Jornalismo feita pelo senador Antônio Carlos Valadares (PSB-CE), através de Proposta de Emenda Constitucional, com isso, alcançaremos a justa justiça no que diz respeito aos direitos de fato e não de especulação.

* Laércio Pimentel, jornalista, diretor da KFL Comunicações.
laerciokfl@gmail.com

Nenhum comentário: