Todo torcedor começa sua paixão pelo clube por duas vias: o
pai é torcedor e influência a escolha, ou o time tem um elenco fantástico, com
futebol vistoso e um ou mais jogador de destaque. No dia 4 de janeiro de 2012,
a S.E. Palmeiras perdeu sua maior estrela: São Marcos.
Daqui a muitos anos, aqueles que acompanharam a carreira do
goleiro dos goleiros poderão dizer que viveu e viu o mito em campo, as suas
defesas mágicas, milagrosas, santas.
Cobrar pênalti contra o Marcos invertia a lógica do futebol,
em que o goleiro era a vítima e o cobrador o algoz. Ao tomar o centro do gol,
abrir os braços de maneira majestosa, como se anunciasse ser aquele o seu
espaço, portanto, o proprietário de fato e de direito, Marcos não apenas
colocava a dúvida na cabeça de seu oponente, mas a confiança e a certeza no
coração do torcedor palmeirense. E como o torcedor confiava...
Jamais um torcedor esmeraldino vai esquecer a defesa contra
Marcelinho Carioca. Que outro goleiro faria de uma defesa o momento mais
sublime do futebol que não fosse o gol? Só um santo conseguiria tal proeza, ou
melhor, milagre. Ele repetiu a defesa de pênaltis mais 32 vezes ao longo de sua
história, fazendo dele o milagreiro no momento fatal. Aos atacantes só cabia
rezar. Mas rezar contra um santo é tarefa ingrata.
Na Copa do Mundo de 2002, foi a fortaleza que garantiu
tranquilidade para que o ataque fizesse a sua função sem precisar olhar para
trás. Na decisão contra a Alemanha, não fosse o politiques, seria escolhido o
melhor jogador da partida. Mas os holofotes nunca foram prioridade na vida de
São Marcos, afinal, quem tem luz própria não precisa ser artificial.
Nos últimos jogos do Palmeiras, eu e meus filhos – todos
palestrinos de devoção – íamos aos estádios, ou víamos pela Tv, com a teimosia
do sempre torcedor, mas com o orgulho de ver São Marcos debaixo do gol. Agora
cada vez que olharmos para debaixo das traves, veremos um espaço vazio.
Qualquer titular, por melhor que seja, será sempre seu eterno reserva, pois
substituir um grande goleiro não é tão difícil, mas ocupar o lugar de um santo,
nem por milagre.