quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Para não dizer que eu não falei de um Santo


Todo torcedor começa sua paixão pelo clube por duas vias: o pai é torcedor e influência a escolha, ou o time tem um elenco fantástico, com futebol vistoso e um ou mais jogador de destaque. No dia 4 de janeiro de 2012, a S.E. Palmeiras perdeu sua maior estrela: São Marcos.
Daqui a muitos anos, aqueles que acompanharam a carreira do goleiro dos goleiros poderão dizer que viveu e viu o mito em campo, as suas defesas mágicas, milagrosas, santas.
Cobrar pênalti contra o Marcos invertia a lógica do futebol, em que o goleiro era a vítima e o cobrador o algoz. Ao tomar o centro do gol, abrir os braços de maneira majestosa, como se anunciasse ser aquele o seu espaço, portanto, o proprietário de fato e de direito, Marcos não apenas colocava a dúvida na cabeça de seu oponente, mas a confiança e a certeza no coração do torcedor palmeirense. E como o torcedor confiava...
Jamais um torcedor esmeraldino vai esquecer a defesa contra Marcelinho Carioca. Que outro goleiro faria de uma defesa o momento mais sublime do futebol que não fosse o gol? Só um santo conseguiria tal proeza, ou melhor, milagre. Ele repetiu a defesa de pênaltis mais 32 vezes ao longo de sua história, fazendo dele o milagreiro no momento fatal. Aos atacantes só cabia rezar. Mas rezar contra um santo é tarefa ingrata.
Na Copa do Mundo de 2002, foi a fortaleza que garantiu tranquilidade para que o ataque fizesse a sua função sem precisar olhar para trás. Na decisão contra a Alemanha, não fosse o politiques, seria escolhido o melhor jogador da partida. Mas os holofotes nunca foram prioridade na vida de São Marcos, afinal, quem tem luz própria não precisa ser artificial.
Nos últimos jogos do Palmeiras, eu e meus filhos – todos palestrinos de devoção – íamos aos estádios, ou víamos pela Tv, com a teimosia do sempre torcedor, mas com o orgulho de ver São Marcos debaixo do gol. Agora cada vez que olharmos para debaixo das traves, veremos um espaço vazio. Qualquer titular, por melhor que seja, será sempre seu eterno reserva, pois substituir um grande goleiro não é tão difícil, mas ocupar o lugar de um santo, nem por milagre.